Rapper Oruam vira réu por tentativa de homicídio no Rio. Entenda todos os detalhes do caso, denúncias, defesa e o que esperar do julgamento.
1. Quem é Oruam? Breve biografia do rapper carioca
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, conhecido artisticamente como Oruam, é um dos nomes emergentes do rap nacional. Nascido e criado no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, o artista ganhou notoriedade com letras que retratam a realidade da periferia, o cotidiano de violência urbana e a busca por ascensão social por meio da música.
Com milhões de visualizações nas plataformas de streaming e redes sociais, Oruam se destacou como um expoente da nova geração do trap brasileiro, abordando temas sensíveis como desigualdade, repressão policial e liberdade de expressão. Seu estilo cru e direto conquistou jovens de todo o país que se identificam com suas rimas de protesto e superação.
Porém, sua carreira foi recentemente impactada por denúncias criminais graves que colocaram seu nome em evidência fora dos palcos.
2. O que aconteceu no Complexo da Penha? Linha do tempo do caso
O mandado de busca e apreensão
O episódio central que resultou na denúncia contra Oruam ocorreu em 21 de junho de 2025, durante uma operação policial no Complexo da Penha. Segundo o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), a ação visava cumprir um mandado de busca e apreensão relacionado a um adolescente investigado por envolvimento com o tráfico de drogas e roubos.
Durante a operação, o menor foi apreendido, o que teria provocado uma forte reação dos moradores e pessoas próximas ao artista.
A reação violenta do rapper e seus amigos
A denúncia afirma que Oruam, seu amigo Willyam Matheus Vianna Rodrigues Vieira e outros indivíduos não identificados, arremessaram pedras de uma varanda a 4,5 metros de altura contra policiais que participavam da ação. As pedras, que chegavam a pesar 4,85 quilos, poderiam causar lesões graves ou até mesmo levar à morte.
Um policial foi atingido nas costas, e outro precisou se abrigar atrás de uma viatura para se proteger. Esses fatos embasaram a acusação de tentativa de homicídio qualificado.
A prisão de Oruam
Oruam se entregou à polícia no dia seguinte, 22 de junho, sendo preso preventivamente. Ele já estava sendo investigado por outras infrações relacionadas ao mesmo contexto da operação e, agora, também responde formalmente por tentativa de homicídio.
3. A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ)
Acusação de tentativa de homicídio qualificado
O MPRJ sustenta que o rapper e seus comparsas agiram com “dolo eventual” — ou seja, mesmo sem a intenção direta de matar, assumiram o risco de causar a morte dos agentes públicos ao atirar objetos pesados do alto. Essa conduta é tipificada como tentativa de homicídio qualificado, com agravantes que podem incluir motivo torpe e meio cruel.
Alegações de dolo eventual e uso de meio cruel
A promotoria destaca que o ataque foi direcionado e com o claro objetivo de ferir ou intimidar os agentes. O fato de os objetos lançados terem peso e volume consideráveis reforça a tese de que havia risco real à vida dos policiais. Além disso, a denúncia aponta publicações nas redes sociais do artista como provas de incitação à violência e desafio à autoridade.
4. A decisão judicial e o novo mandado de prisão
A juíza Tula Correa de Mello, da 3ª Vara Criminal do Rio, aceitou a denúncia e tornou Oruam e Willyam réus. Um novo mandado de prisão preventiva foi expedido contra o rapper, que continua detido. A magistrada reconheceu os indícios suficientes de autoria e materialidade para a abertura do processo criminal.
5. Quais são os outros crimes pelos quais Oruam responde?
Além da acusação de tentativa de homicídio, o rapper responde a outras sete infrações penais, todas ligadas ao mesmo episódio no Complexo da Penha.
Tráfico e associação para o tráfico
Segundo o inquérito, há evidências de envolvimento de Oruam com atividades de comercialização e distribuição de entorpecentes na região, o que configura tráfico de drogas. A associação com outros indivíduos para esse fim agrava a situação jurídica do artista.
Lesão corporal, desacato e ameaça
A polícia também acusa o artista de ter resistido à abordagem com violência, proferido ameaças aos agentes e cometido lesões leves em pelo menos um policial. Há ainda relatos de danos a veículos da corporação e de desrespeito à autoridade pública.
6. O que diz a defesa do rapper Oruam?
Alegações de legítima defesa e desespero
A defesa de Oruam nega categoricamente a acusação de tentativa de homicídio. Em nota enviada à imprensa e em declarações públicas, os advogados afirmam que o rapper agiu em um “momento de extremo desespero” e em legítima defesa. De acordo com essa versão, Oruam teria jogado pedras apenas contra carros descaracterizados estacionados em frente à sua casa — veículos que ele supostamente não reconheceu como parte de uma operação oficial.
Segundo a assessoria do artista, ele foi ameaçado de morte e agredido por policiais antes mesmo de reagir. A nota também afirma que Oruam não ofereceu resistência à abordagem, mas mesmo assim foi tratado de forma violenta.
Possível abuso de autoridade na operação
A defesa argumenta ainda que a operação policial foi marcada por ilegalidades. Os principais pontos levantados são:
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Ausência de um mandado judicial válido que justificasse a invasão da casa de Oruam;
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Uso de veículos sem identificação pela polícia, dificultando a distinção entre criminosos e agentes legais;
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Diligências realizadas fora do horário legal permitido, o que infringe a Lei nº 13.869/2019 (Lei de Abuso de Autoridade).
Os advogados sustentam que essas circunstâncias evidenciam abuso de autoridade e que a operação policial representa uma violação ao Estado Democrático de Direito. Para eles, o caso é uma tentativa de criminalizar indevidamente um artista periférico.
7. Impacto nas redes sociais e na imagem pública de Oruam
O caso teve ampla repercussão nas redes sociais, dividindo opiniões entre fãs, críticos e defensores dos direitos humanos. Enquanto alguns usuários expressam apoio ao artista, alegando perseguição e abuso policial, outros defendem a atuação da Justiça e dos agentes de segurança pública.
Perfis de apoio a Oruam compartilharam vídeos e relatos contestando a narrativa oficial, enquanto veículos tradicionais de imprensa repercutiram os detalhes da denúncia e da resposta jurídica. Como figura pública, a imagem de Oruam sofreu forte impacto, e patrocinadores, gravadoras e plataformas passaram a adotar posturas mais cautelosas diante da instabilidade legal envolvendo o rapper.
8. O que é dolo eventual e por que é importante nesse caso?
O termo “dolo eventual” é central no caso contra Oruam. Ele se refere a uma forma de intenção em que o agente, mesmo não querendo diretamente causar um resultado (como a morte), assume o risco de que isso ocorra e age mesmo assim.
No processo criminal, essa configuração é utilizada para tipificar a conduta como tentativa de homicídio. Para o Ministério Público, ao lançar pedras pesadas do alto contra policiais, Oruam e os outros envolvidos assumiram esse risco, o que qualifica o crime mesmo que não haja uma morte efetiva.
9. A Lei dos Crimes Hediondos e sua aplicação ao caso
A promotoria também busca enquadrar o ato como crime hediondo. Segundo a Lei nº 8.072/1990, crimes hediondos são considerados de extrema gravidade e, por isso, recebem punições mais severas, como:
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Regime inicial de pena fechado;
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Proibição de indulto ou anistia;
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Maior tempo de cumprimento de pena antes de progressão de regime.
Se o Judiciário aceitar esse enquadramento, Oruam poderá enfrentar um julgamento mais rigoroso, com menos benefícios legais e penas mais pesadas.
10. Fase de instrução processual: o que esperar a seguir?
Com a aceitação da denúncia pela Justiça, o processo entra na fase de instrução. Isso significa que:
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Serão ouvidas testemunhas de acusação e defesa;
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Serão analisadas provas técnicas e perícias;
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O juiz poderá determinar novas diligências, se necessário.
Ao final dessa etapa, o juiz decidirá se há elementos suficientes para levar o caso a julgamento ou se os réus devem ser absolvidos.
11. Qual a pena prevista para tentativa de homicídio qualificado?
A tentativa de homicídio qualificado é punida com base no artigo 121, § 2º, do Código Penal, podendo levar a:
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Pena de 12 a 30 anos, se o homicídio for consumado;
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No caso de tentativa, a pena é reduzida de um a dois terços, conforme o artigo 14, inciso II.
Ou seja, Oruam pode pegar entre 4 a 20 anos de prisão, dependendo da análise do juiz e da gravidade dos fatos apurados.
12. O que dizem especialistas em direito criminal sobre o caso?
Juristas e professores de Direito Penal têm debatido o caso com base nos princípios da legalidade, da ampla defesa e da presunção de inocência. Alguns argumentam que o dolo eventual não está claro o suficiente, enquanto outros consideram a resposta da Justiça coerente diante das evidências.
O uso de redes sociais para incitar violência também é motivo de preocupação. Para especialistas, é preciso equilibrar a liberdade de expressão com a responsabilidade penal de cada indivíduo.
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