Manifestações e descontentamentos, sejam eles virtuais ou físicos, têm, nesses últimos tempos, levantado muitas questões sobre verdade e mentira, manipulação e conhecimento concreto. Caro leitor, não é de hoje que nossa história é manchada e emporcalhada por líderes que buscam apenas controlar, induzir e perpetuar a ignorância através de um plano de poder. Estou falando do termo “Idiota Útil”. Com certeza você já ouviu falar, mas talvez não saiba seu real significado e como algo do passado se tornou ainda mais poderoso atualmente, principalmente com o advento da internet: transformou-se em uma arma para manipulação e destruição de um povo. Ser idiota útil não é algo positivo, e muito menos tem algo de útil — a pessoa é reduzida a um mero robô. Líderes nefastos ditam e propagam notícias controlando as principais mídias. Como vampiros, sugam do povo o que há de mais precioso: o conhecimento e a criticidade, em um jogo desleal de manipulação.
A origem do termo “idiota útil” remonta à Guerra Fria, um período marcado pelo forte confronto ideológico entre o capitalismo ocidental e o comunismo soviético. Nessa época, o termo foi utilizado, principalmente, para rotular pessoas que apoiavam e lutavam, direta ou indiretamente, por causas diversas ou regimes políticos sem compreender suas implicações, o que estava por trás dessas causas, muito menos o impacto real de seus apoios. Leitor, essas pessoas, ao invés de se preocuparem com seus próprios interesses, acabavam favorecendo e colocando como objetivo de vida os sistemas ideológicos, em detrimento de suas próprias vidas. Trazendo para o presente, principalmente com o advento da internet, esse jogo sujo voltou com ainda mais força, basta observar a manipulação com as “Fake News” e a mídia distorcendo notícias, tornando políticos com histórico de crimes em bastiões da justiça.
Um erro frequente é atribuir o uso desse termo a Vladimir Lenin, o líder da Revolução Russa e teórico do comunismo. Não há evidências concretas de que ele tenha, de fato, usado essa expressão. Historiadores e estudiosos já revisaram os escritos de Lenin e não encontraram nenhuma menção direta a “idiotas úteis”. Portanto, essa atribuição é controversa e pode ter sido resultado de interpretações posteriores, especialmente no contexto da guerra entre capitalismo e comunismo, embora tenha ganhado força na Guerra Fria. O termo pode ser usado por ambos os lados, e não é estranho que sua origem real seja desconhecida. O jornal The New York Times já havia discutido esse tema em 1987.
Desde a Guerra Fria até os dias atuais, o termo passou a ser amplamente utilizado tanto pela direita quanto pela esquerda para rotular indivíduos que, por ignorância ou falta de reflexão crítica, apoiam políticas ou regimes autoritários, influenciados por professores e propagandas de desinformação. Vários políticos fazem vídeos nas ruas questionando pessoas, em práticas como a do “Mude minha opinião”, comum no MBL, exemplificando como indivíduos defendem causas que nem sequer sabem explicar. No palco da política, vale tudo para controlar sua mente. Nos últimos anos, observamos um aumento significativo de pessoas que, muitas vezes sem uma análise crítica ou compreensão profunda, apoiam discursos e agendas políticas que podem ir contra seus próprios interesses ou direitos fundamentais.
Agora a situação começa a ficar mais sombria, caro leitor. Algo do passado, com uma força macabra, domina o presente, especialmente quando o governo controla os poderes através do aparelhamento e da corrupção, ditando o que as mídias podem ou não dizer e, pior, fomentando a briga entre classes. Redes sociais como Facebook, X (antigo Twitter) e WhatsApp se tornam verdadeiros coliseus, onde uma batalha ideológica é travada. Narrativas simplificadas e, muitas vezes, distorcidas são compartilhadas em larga escala. Exércitos de influenciadores, artistas, jornalistas e professores, entre outros, manipulam nesse palco sombrio. Os usuários dessas plataformas, sem a capacidade de verificar a veracidade das informações ou, pior, sem refletir sobre suas implicações, acabam promovendo discursos que fortalecem líderes políticos ou movimentos que, na prática, são nocivos à democracia e, principalmente, à justiça. Pessoas apoiando ditaduras, censuras e, especialmente, a criminalização de cidadãos, simplesmente por discordarem do regime em questão.
Esses grupos políticos se beneficiam do apoio de uma massa que não possui ferramentas para analisar criticamente o que está sendo proposto. Em muitos casos, o “idiota útil” é alguém que, movido por paixões políticas ou pela identificação com figuras carismáticas, acaba sendo manipulado para atender a interesses que ele próprio não compreende totalmente. Estamos assistindo a exemplos claros desse tipo de comportamento em episódios recentes, onde pessoas se mobilizam em prol de causas que favorecem elites ou perpetuam desigualdades, muitas vezes sem perceber o impacto real de suas ações. E o que mais assusta é ver o apoio a causas nocivas: recentemente, observamos pessoas homossexuais apoiando ditaduras que têm como lei o extermínio de homossexuais. A incoerência é tamanha que o abismo entre ignorância e burrice é entristecedor.
A era da pós-verdade, em que fatos e evidências são muitas vezes ignorados em favor de narrativas emocionais ou populistas, intensificou a presença dos chamados “idiotas úteis”. Eles são agentes involuntários de uma estratégia mais ampla de manipulação política, que visa fragmentar o debate público e enfraquecer a capacidade crítica da população. Isso cria um ambiente onde líderes populistas e autoritários podem prosperar, explorando a falta de discernimento crítico da população. Observamos isso de camarote na eleição de Bolsonaro, e ficou ainda mais evidente na eleição de Lula. Agora, na eleição de São Paulo, e continuaremos observando, pois a máquina segue operando. A manipulação dos “idiotas úteis” permite a implementação de políticas que favorecem interesses restritos, enquanto a maioria não percebe o impacto negativo sobre seus direitos e sobre a própria estrutura democrática. Estamos vivenciando isso com o nosso Supremo Tribunal Federal e sua atuação, que persegue quem discorda e protege os eleitos. Com o tempo, isso corrói a confiança nas instituições, desvaloriza o pluralismo e enfraquece os mecanismos de controle e participação cidadã, pilares essenciais de uma democracia saudável.
O filósofo Platão, em seu célebre Mito da Caverna, descreveu a condição humana como uma de prisioneiros acorrentados, incapazes de ver a verdade, iludidos pelas sombras que são projetadas diante deles. Ele afirmou: “Como prisioneiros acorrentados dentro de uma caverna, as pessoas enxergam apenas sombras projetadas na parede, acreditando que elas são a realidade. Quando, na verdade, a realidade está fora da caverna.” Essa metáfora, caro leitor, ecoa fortemente nos dias de hoje, onde as sombras projetadas pelas mídias e pela manipulação virtual substituem o acesso à verdade e ao conhecimento. E quem são os prisioneiros modernos, senão os “Idiotas Úteis”, que repetem essas sombras sem questionar?