Cosmovisão é a lente através da qual enxergamos o mundo. Ela molda sua identidade, suas crenças e até suas decisões cotidianas.
O conceito apresentado acima, como colocado por diversos autores ao longo dos séculos, representa aquilo que norteia sua forma de pensar — o que te guia antes mesmo de você conceber uma ideia, conceito ou opinião. É a voz que dita sua identidade.
Muitos de nós sequer percebemos que isso existe, mas reflita — e direciono essa provocação principalmente aos integrantes da dita direita —: quando você ouve as seguintes palavras: direitos humanos, progressismo, relativismo… Independentemente de você querer ou não, sua mente já terá algo formado sobre esses temas e, de forma irracional, sentirá asco, desgosto ou aversão, mesmo que talvez nunca tenha refletido profundamente sobre o assunto.
Trago essa discussão com um único propósito: você precisa definir sua cosmovisão para entender, no fundo, quem você é. Essa cosmovisão — esse modo de enxergar o mundo — é algo inerentemente religioso, mesmo que às vezes não pareça. Viver sob uma ótica majoritariamente nacionalista, por exemplo, molda sua forma de pensar sobre todos os tipos de assuntos, até mesmo aqueles que você nem estudou a fundo e, de maneira quase transcendental, funciona como uma religião. Isso se torna ainda mais evidente ao consultarmos o significado do termo “religião” no dicionário: “É um sistema de fé que envolve a adoração a uma divindade ou a um conjunto de princípios éticos e morais que orientam a vida dos indivíduos.” A segunda parte dessa definição claramente aponta para a cosmovisão, sendo algo, necessariamente, religioso.
Esse assunto, historicamente, recebe bastante atenção do mundo cristão, tendo em vista seu enorme poder de nortear decisões — seja dentro da igreja, de casa, da universidade ou do trabalho. E, hoje, infelizmente, cristãos e o mundo em geral pouco se atentam a algo tão essencial, seja para reconhecer seus próprios preconceitos e estudar temas antes inacessíveis, seja para conhecer melhor a si mesmo.
Hoje, de forma trágica, a cosmovisão cristã — e, em geral, toda cosmovisão moral — morreu. Tudo foi deixado de lado em prol de uma visão individualista, hedonista e egoísta do mundo. Não se trata mais de ajudar sua família, amigos ou comunidade, mas de você estar bem. Autoajuda, autocrescimento, auto, auto, auto. O outro se torna secundário, tanto pela decadência da cultura cristã como força dominante, quanto pelo avanço desenfreado do capitalismo como ideologia. O liberalismo humanista toma conta das nossas mentes a ponto de acharmos absurdo um Deus — ou qualquer ente superior — ditar o que devemos ser ou saber. Tudo gira em torno do eu.
Sua atitude é errada e imoral? Não, é apenas uma “interpretação diferente”. O certo e o errado se dissolvem em um emaranhado irregular e incompreensível de opiniões variadas. Ninguém sustenta mais o que pensa, não há definição de justo ou injusto — muito menos de bem e mal. A relativização individualista nos trouxe a isso: o fim das cosmovisões centradas na moralidade, na religião ou mesmo em valores.
É claro que, como cristão, defenderei a cosmovisão cristã, para que possamos nortear nossos pensamentos de acordo com o que Deus quer. Mas isso não significa que os não cristãos não possam ter cosmovisões melhores do que a vigente no Ocidente hoje. Historicamente, os grandes homens e mulheres buscaram algo transcendental — seja por meio de Deus, da filosofia ou de convicções morais herdadas dos antepassados. Isso é parte de todos eles. Napoleão vivia em busca do ideal de uma grande França — uma França que talvez nunca pudesse existir —, e isso o levou a grandes conquistas.
“É melhor não dar mais tempo às pequenas coisas do que elas merecem.” Frase de Marco Aurélio que, hoje, nos serve como grande lição. Será que estamos gastando tempo demais com coisas vãs e meramente individualistas? Quanto tempo estamos, de fato, investindo na criação de algo grande, novo, diferente?
A lição de hoje é essa, leitor: examine a si mesmo. Qual é a sua cosmovisão, e como ela afeta sua forma de agir? Como disse (supostamente) Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo.” Devemos nos conhecer, buscar entender quem somos. Afinal, antes de qualquer mudança, precisamos descobrir quem somos hoje para, então, irmos a algum lugar diferente. E, necessariamente, sua cosmovisão influencia quem você é — e quem você será.