Bastião Compilado – 30/04/2025

UNIÃO-PP FORMALIZA BLOCO COM VIÉS BOLSONARISTA E PRESSIONA GOVERNO LULA: A nova federação formada entre União Brasil e Progressistas (PP) marcou oficialmente um reposicionamento no tabuleiro político ao anunciar sua aproximação com a direita e com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em um manifesto divulgado durante o evento de lançamento, o grupo defendeu um “choque de prosperidade” e criticou o excesso de intervenção estatal na economia, prática atribuída com frequência aos governos petistas. A articulação ocorre em meio às dificuldades do presidente Lula em garantir apoio sólido no Congresso. Com 109 deputados, 14 senadores, mais de mil prefeitos e um fundo partidário robusto, a federação se apresenta como força significativa no cenário nacional.

Apesar de União e PP ainda ocuparem quatro ministérios no atual governo, o evento de lançamento evidenciou o distanciamento em relação ao Planalto. Nenhum representante do PT esteve presente, enquanto lideranças do PL, partido de Bolsonaro, marcaram presença de forma destacada. ACM Neto elogiou publicamente o ex-presidente, afirmando que não é possível construir uma alternativa viável ao PT sem considerar sua influência. Já o governador Ronaldo Caiado defendeu que a federação assuma a responsabilidade de construir um projeto nacional para 2026, sinalizando sua intenção de disputar a Presidência.

A estrutura da nova federação também gerou tensões internas. O comando foi dividido entre Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União), descontentando Arthur Lira, que aspirava à liderança. Apesar da ausência formal do Republicanos no bloco, seus líderes participaram da cerimônia e manifestaram alinhamento com a pauta da centro-direita. O manifesto da federação também trouxe críticas à condução econômica dos governos desde a redemocratização, exaltando apenas o Plano Real como exemplo de sucesso. As legendas defendem uma reforma administrativa ampla, com foco na modernização do Estado.

Nos bastidores, porém, a federação enfrenta desafios para consolidar sua estrutura nos estados. A divisão do comando regional ainda não está completa: 18 das 27 unidades federativas já foram negociadas, mas estados-chave como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais permanecem indefinidos. O critério de distribuição levou em conta o partido do governador e o peso das bancadas federais, permitindo que líderes como Davi Alcolumbre, Ronaldo Caiado e ACM Neto garantissem influência em seus estados. No entanto, disputas locais ainda podem comprometer a unidade do bloco.

Essas divergências internas ameaçam a coesão da federação, principalmente em estados onde há conflitos entre filiados do mesmo partido. Em Pernambuco, por exemplo, Mendonça Filho contesta o controle do PP; na Bahia, deputados do PP se opõem ao comando do União Brasil, adversário do governo petista local. No Amazonas, a relação entre Pauderney Avelino e o governador Wilson Lima também gera ruído. Essas tensões devem se acirrar com a proximidade das eleições de 2026, como já ocorre no Paraná, onde Sergio Moro lidera as pesquisas para o governo, mas enfrenta resistência do PP, aliado do atual governador Ratinho Júnior. Nesse cenário fica nítido que, apesar da força institucional, a federação ainda precisa resolver seus próprios impasses antes de se apresentar como uma alternativa viável de poder.

SENADO AVALIA ALTERNATIVA À ANISTIA PARA ENVOLVIDOS NO 8 DE JANEIRO: O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), afirmou estar analisando o projeto do senador Alessandro Vieira (MDB-SE), que propõe uma alternativa à anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. A proposta visa estabelecer critérios mais proporcionais de punição, distinguindo líderes e financiadores de participantes com menor envolvimento. O objetivo é amenizar a tensão entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF), sem adotar o perdão total defendido por parte da oposição.

Desde que assumiu a presidência do Senado, Alcolumbre tem mostrado resistência à ideia de anistia geral, alegando que isso não promoveria a pacificação nacional. O projeto de Vieira altera o Código Penal para diferenciar quem teve papel ativo no planejamento e financiamento da tentativa de golpe, daqueles que participaram de forma passiva, influenciados pela massa. A proposta tem atraído apoio por buscar um equilíbrio jurídico, sem isentar os principais responsáveis pelos crimes.

Líderes do governo no Congresso, como Randolfe Rodrigues e Jaques Wagner, manifestaram apoio à medida, desde que não haja anistia para os mandantes e financiadores. Ambos ressaltaram que o governo federal não está diretamente envolvido na articulação. Já a oposição, representada por Carlos Portinho (PL-RJ), criticou a falta de diálogo, alegando que a proposta chegou aos líderes partidários apenas pela imprensa.

AÉCIO E LEITE MIRAM TERCEIRA VIA EM FUSÃO ENTRE PSDB E PODEMOS: A fusão entre PSDB e Podemos tem avançado, com aprovação unânime da executiva nacional tucana e negociações em andamento para unir os dois partidos. O projeto visa fortalecer uma candidatura de centro para as eleições de 2026, sendo os nomes de Aécio Neves e Eduardo Leite os mais cotados. Contudo, esse movimento provoca resistência entre parlamentares ligados à direita, que veem a iniciativa como um distanciamento da linha ideológica conservadora e cogitam deixar o partido.

Lideranças do Podemos, como o deputado Maurício Marcon, afirmam que não apoiarão um protagonismo de Aécio ou Leite, defendendo a permanência ao lado de Jair Bolsonaro. A fusão, embora promissora em números, podendo formar o 6º maior partido em população governada e o 5º maior em fundo partidário, ainda precisa superar divergências internas, especialmente no que diz respeito ao comando da nova legenda e ao alinhamento programático entre suas alas mais à direita e ao centro.

Aécio e Leite representam a tentativa de reconstruir uma alternativa de centro político, longe dos polos lulista e bolsonarista. Aécio se mostra articulador da frente, enquanto Leite mantém cautela sobre seu futuro partidário. Apesar do apoio de figuras como Marconi Perillo, presidente do PSDB, Leite ainda estuda possibilidades, incluindo eventual saída para o PSD. A possível candidatura de centro esbarra, assim, em disputas internas, interesses pessoais e cálculos eleitorais.

Além das questões ideológicas, a fusão enfrenta entraves práticos: precisa do aval do TSE, da aprovação em convenções partidárias e da harmonização de estatutos. Nomes influentes, como o senador Oriovisto Guimarães, alertam para a complexidade do processo e não descartam que ele possa nem se concretizar. Analistas comparam o caso a fusões empresariais, destacando o risco de choques entre lideranças e disputas por protagonismo.

A viabilidade da fusão, portanto, dependerá da capacidade de conciliar interesses e evitar a fragmentação interna. Embora represente uma chance de sobrevivência e crescimento para dois partidos em declínio, o novo agrupamento corre o risco de perder alguns quadros se não conseguir acomodar os diversos espectros ideológicos que hoje o compõem.