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A Crise da Geração Millennial Em um País Parado no Tempo

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A Crise da Geração Millennial Em um País Parado no Tempo

Pois bem, chegamos a 2025. Após incontáveis crises — sejam econômicas, políticas ou de moral pós-Constituição de 1988 —, aqui estamos. Observa-se uma geração jovem com altíssimos índices de ausência tanto nos estudos quanto no espaço de trabalho, presa no universo digital e nos seus infinitos golpes, enquanto a geração anterior, a geração Y, atravessa a conhecida crise da meia-idade, um período já frustrante que, por conta da situação da nossa nação, se torna ainda mais assustador.

Uma breve pesquisa sobre a crise da meia-idade revela que ela se caracteriza por um período de ansiedade, estresse, dúvidas sobre o passado, presente e futuro, uma autocobrança excessiva e um sentimento de não ter realizado todo o potencial. Embora inicialmente pareça algo negativo, essa crise também pode despertar o desejo por novas experiências, a tentativa de reviver sonhos antigos e a busca por novas direções, como mudanças de carreira ou mesmo o ingresso em novos estudos.

Contudo, no contexto brasileiro, essa vontade de renovação na meia-idade se depara com obstáculos significativos. Desafio você, leitor, a citar algum setor no país — seja ele espiritual, econômico, profissional ou acadêmico, qualquer um — que não esteja enfrentando crises ou problemas estruturais consideráveis, onde os aspectos negativos não sejam estrondosamente maiores que os positivos.

Essa reflexão se faz necessária porque a iniciativa de buscar algo novo torna-se desafiadora em um ambiente onde muitas áreas apresentam disfunções. Para alguém na meia-idade, as dificuldades estruturais do Brasil podem intensificar a sensação de impotência diante da possibilidade de mudança (fator que já, nitidamente, afeta também nossos jovens, tendo em vista a desistência logo cedo de trabalhar e estudar). Ingressar em uma nova faculdade em um mercado saturado? Buscar um novo emprego começando do zero com salários iniciais modestos? Investir em um curso técnico com risco de desvalorização profissional? Para muitos, a mudança pode parecer inatingível ou não compensar o esforço.

Esses são apenas alguns exemplos de como os desafios do Brasil podem impactar a vivência da crise da meia-idade, tornando a busca por novos caminhos ainda mais complexa.

Podemos também observar essa complexidade em outras esferas, como a espiritualidade. A ascensão do neopentecostalismo no Brasil é inegável, com um crescimento expressivo nos últimos anos. No entanto, as repercussões vão além do enriquecimento de lideranças por métodos questionáveis. Um problema relevante (e sim, torna-se um problema tendo em vista as bases cristãs sobre as quais não só o Brasil, mas também o ocidente foi fundado) é o enfraquecimento da legitimidade e sacralidade do cristianismo, tanto para os seus adeptos quanto para aqueles que consideram se aproximar da religião. Ao se depararem com figuras midiáticas de práticas controversas, como Valdemiros Santiagos da vida, a imagem da fé cristã é completamente vilipendiada e jogada no lixo. Mas será que tudo é um lixo tão ruim assim?

Diante desse panorama aparentemente desolador, onde as dificuldades nacionais parecem minar qualquer tentativa de renovação pessoal, é crucial analisar com mais profundidade a influência do ambiente digital em nossa percepção da realidade, já que, ouso dizer, nossos problemas não são tão grandes quanto o que fazemos eles serem. A constante exposição a notícias negativas e discussões polarizadas nas redes sociais cria um ciclo vicioso de pessimismo.

Algoritmos tendem a nos apresentar conteúdos que confirmam nossas crenças preexistentes, muitas vezes amplificando a visão de um país em crise generalizada (que existe, sim, mas certamente nem perto do que imaginamos). Essa imersão digital pode obscurecer as iniciativas positivas e os esforços de indivíduos e grupos que, apesar dos desafios, buscam soluções e constroem ativamente um futuro diferente.

Nesse sentido, a narrativa de um Brasil completamente fracassado, frequentemente veiculada, acaba se tornando uma profecia autorrealizável. Se a geração Y, confrontada com a crise da meia-idade e as dificuldades do país, e a geração Z, moldada por essa visão pessimista desde cedo, internalizarem a ideia de que a mudança é inalcançável, a inércia se perpetua — e não preciso dizer quem se beneficia com isso. É fundamental reconhecer que, embora os problemas estruturais sejam reais e significativos, eles não definem a totalidade da experiência brasileira. Existem nichos de inovação, exemplos de resiliência e comunidades engajadas que desafiam essa narrativa dominante.

Portanto, o convite de hoje é para um olhar mais crítico e abrangente. Em vez de se deixar paralisar pela sensação de um fracasso coletivo inevitável, é proveitoso buscar ativamente as exceções, as iniciativas bem-sucedidas e as manifestações de esperança que persistem no tecido social brasileiro. Seja ao apoiar o pequeno comércio local, engajar-se em projetos comunitários, buscar conhecimento em instituições de ensino dedicadas ou simplesmente reconhecer o esforço de pessoas ao seu redor, há um universo de experiências que contradizem a visão de um país irremediavelmente perdido. A mudança, muitas vezes, começa nas pequenas ações e na capacidade de enxergar além da tela, construindo uma realidade que reflita não apenas os desafios, mas também o potencial de transformação que reside na sociedade brasileira.

Que não desistamos do futuro que ainda não veio. Este futuro promete ser difícil, longo e sofrido, mas não é — até experimentarmos dele — um fracasso.

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