Crise na COP30 se intensifica com críticas internacionais aos preços “extorsivos” em Belém; ONU cobra solução até 11 de agosto
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, revelou que países têm pressionado o Brasil a transferir a conferência climática da ONU de Belém para outra cidade devido aos preços considerados “extorsivos” nos hotéis locais. A insatisfação, especialmente entre nações em desenvolvimento, gerou apelos formais para a mudança do local do evento, marcado para novembro de 2025. Segundo Corrêa do Lago, o aumento das diárias chegou a 15 vezes o valor normal, o que cria um cenário de exclusão e compromete a participação de diversas delegações.
A crise ganhou repercussão internacional após o negociador africano Richard Muyungi denunciar publicamente a inviabilidade logística e financeira da conferência em Belém. Em uma reunião de emergência com o órgão climático da ONU, o Brasil se comprometeu a apresentar soluções até 11 de agosto, data que será decisiva para confirmar a permanência do evento na cidade. Muyungi destacou que o Grupo Africano quer manter suas delegações completas e cobra do Brasil uma resposta concreta.
O governo brasileiro tenta conter os danos. Um grupo coordenado pela Casa Civil está dialogando com o setor hoteleiro e buscando alternativas para ampliar a capacidade de hospedagem. Duas embarcações foram contratadas para funcionarem como hotéis flutuantes, oferecendo 6 mil camas adicionais. Também foi aberta uma reserva de acomodações com diárias até US$ 220 para países em desenvolvimento. No entanto, esse valor ainda ultrapassa o auxílio-moradia que a ONU destina a algumas nações.
Mesmo com esses esforços, relatos de diplomatas indicam que muitas delegações, inclusive de países ricos, ainda não conseguiram garantir hospedagem. Representantes da Holanda e da Polônia, por exemplo, já anunciaram que podem ter que reduzir drasticamente o número de participantes, o que ameaça a diversidade e a representatividade da conferência. Um diplomata polonês chegou a dizer que, em um cenário extremo, o país pode simplesmente não comparecer.
Como funciona a escolha da sede da COP?
A Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) é organizada anualmente sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC). A escolha da cidade-sede é feita por consenso entre os países-membros, com base em propostas apresentadas com anos de antecedência. Fatores como capacidade logística, segurança, infraestrutura e neutralidade de carbono são levados em conta.
A candidatura de Belém foi aprovada em 2023 como uma estratégia brasileira para destacar a importância da Amazônia no debate climático global. O governo federal comprometeu-se com garantias logísticas e diplomáticas para viabilizar o evento. No entanto, quando problemas surgem — como no caso dos preços abusivos e da falta de hospedagem — a sede pode ser reconsiderada, embora isso seja raro. A última mudança de local ocorreu em 2019, quando o Chile desistiu de sediar a COP25 por causa de protestos, e a conferência foi transferida para Madri.
Fonte: UN Climate Change – Host country information
O impacto econômico e social da “turistificação” em megaeventos ambientais
Eventos como a COP30 costumam trazer um boom econômico para as cidades-sede — mas também geram distorções graves nos preços locais. A especulação sobre diárias de hotéis, serviços e até alimentação é comum, como se vê agora em Belém, onde os valores subiram até 1.500%. Isso gera exclusão e desigualdade de acesso, especialmente para delegações do sul global.
Essa prática, conhecida como “turistificação de eventos climáticos”, já foi criticada anteriormente em conferências sediadas em países africanos e asiáticos. Além de reduzir a participação de países em desenvolvimento, ela compromete os princípios da equidade e da justiça climática defendidos pela própria ONU. Em 2022, ativistas ambientalistas alertaram que a COP27 no Egito teve “preços proibitivos e repressão a vozes críticas”, o que minou a legitimidade do encontro.
Fonte: Climate Home News – COP27 was too expensive for many to attend
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