ITAMARATY ATUA COM CAUTELA DIANTE DE AMEAÇA TARIFÁRIA DOS EUA:

A ameaça de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros acendeu um alerta no governo federal e jogou o Itamaraty no centro de uma crise diplomática. A publicação antecipada da carta enviada ao presidente Lula, feita pelo próprio Trump em sua rede social, causou indignação. Para o ex-chanceler Aloysio Nunes, o gesto foi “um comportamento cafajeste”, pois “antes mesmo que o presidente Lula tenha recebido a carta, [Trump] publica o teor na sua rede social”. Nunes defendeu uma reação firme, com base na nova Lei da Reciprocidade, que permite sanções comerciais.

Especialistas e ex-embaixadores apontam a urgência de uma diplomacia menos ideológica e mais técnica. Rubens Ricupero recomendou serenidade nas negociações, destacando que há uma janela de pouco mais de 20 dias até a entrada em vigor da tarifa. Já Rubens Barbosa alertou para o enfraquecimento do Itamaraty, dizendo que posições técnicas vêm sendo sufocadas por conflitos entre falas políticas e diretrizes profissionais. Segundo ele, foi um erro romper canais com Trump por razões partidárias, e agora o Brasil precisa de diplomacia profissional para enfrentar a situação.

A reação do setor produtivo também foi rápida. Entidades da indústria, comércio e agronegócio, como a Centrorochas e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), demonstraram preocupação com os impactos da medida e cobraram do governo mais diplomacia e menos ideologia. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificou a atitude de Trump como “indecente”, mas afirmou que o governo busca abrir novos mercados para compensar possíveis perdas. Ainda assim, há o reconhecimento de que é necessária uma resposta urgente e coordenada para proteger a economia brasileira.

O presidente Lula declarou que, se os EUA impuserem a tarifa, o Brasil aplicará reciprocidade. O governo também cogita acionar a OMC e convocar a embaixadora em Washington para consultas formais. Apesar da retórica política contra os EUA em alguns momentos, há um esforço para que o Itamaraty atue com cautela e profissionalismo. A habilidade da diplomacia brasileira em isolar os aspectos técnicos da crise da polarização política interna será decisiva para evitar prejuízos e preservar os interesses comerciais do país.

JUSTIÇA INTERVÉM E EVITA COLAPSO NO LIXO DE GOIÂNIA:

A Justiça de Goiás determinou o desbloqueio imediato da Comurg no sistema estadual de controle de resíduos, o MTR-GO. Segundo a decisão da 2ª Vara da Fazenda Pública, a medida da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) colocava em risco a coleta de lixo em Goiânia e ameaçava causar sérios danos ambientais e à saúde pública. A liminar estabelece um prazo de 12 horas para que o serviço seja restabelecido, sob pena de multa, e considera que a Semad extrapolou sua competência ao interferir em um serviço essencial.

A decisão judicial reforça o entendimento já firmado anteriormente pelo Tribunal de Justiça de Goiás, que havia garantido a continuidade das operações da Comurg no aterro da capital. O juiz Vinícius Caldas destacou que uma eventual paralisação da coleta resultaria em consequências “previsíveis e catastróficas”, como acúmulo de lixo, proliferação de doenças e impacto direto no bem-estar da população. A nova liminar garante que a Comurg continue operando até o julgamento final do caso.

Técnicos da Prefeitura de Goiânia e da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) defenderam a regularidade e segurança do aterro sanitário público da cidade. Segundo os especialistas, a estrutura é estável, monitorada diariamente e cumpre todas as normas ambientais. A equipe também repudiou comparações com o aterro privado de Padre Bernardo, que sofreu um desabamento, afirmando que o aterro de Goiânia passa por inspeções constantes e não apresenta qualquer risco de colapso.

Relatórios técnicos de 2023 e 2024, elaborados por consultorias especializadas e órgãos de planejamento urbano, atestam a viabilidade e a vida útil da estrutura. O engenheiro responsável, Guilherme Barros, garante que o sistema de drenagem e o isolamento da área evitam qualquer contaminação do solo. A Prefeitura já trabalha em um plano de modernização da unidade, com foco na sustentabilidade, reaproveitamento de resíduos e investimento contínuo em segurança ambiental.

TARIFAÇO DE TRUMP TRAVA ARTICULAÇÃO POR ANISTIA NO CONGRESSO:

A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre importações brasileiras repercutiu diretamente nas discussões políticas do Congresso Nacional. Lideranças da Câmara avaliam que o contexto de tensão comercial entre os dois países torna inviável o avanço do projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Para esses parlamentares, seria inadequado dar andamento à proposta enquanto o país enfrenta pressões externas com potencial impacto econômico.

Mesmo com articulações em curso por parte do presidente da Câmara, Hugo Motta, que vinha dialogando com Jair Bolsonaro para construir um consenso sobre a anistia, o cenário atual é considerado desfavorável. A avaliação é que a votação de um tema sensível como esse, em meio a um episódio de conflito com uma potência estrangeira, seria politicamente arriscada e difícil de justificar perante a opinião pública.

A discussão ganhou novos contornos após a divulgação de uma carta assinada por Eduardo Bolsonaro e pelo comentarista Paulo Figueiredo. No documento, eles pedem que o Congresso Nacional lidere uma saída institucional que inclua uma anistia ampla, geral e irrestrita no âmbito do chamado “inquérito do golpe”. A carta também sugere a criação de legislação para garantir a liberdade de expressão, especialmente em ambiente digital, e a responsabilização de agentes públicos.

Diante desse cenário, deputados ouvidos pela reportagem consideram remota a possibilidade de votação da anistia neste momento. A repercussão do tarifaço criou um ambiente de cautela no Legislativo, e parlamentares avaliam que o momento exige foco na resposta à medida imposta pelos EUA. Assim, a discussão sobre a anistia deve permanecer em segundo plano enquanto durar a tensão comercial entre os dois países.